Nandadornelles's Blog

Archive for June 22nd, 2009

Estou fazendo um trabalho voluntário aqui na Gold Coast, um dos lugares mais wealthy para se viver na Australia. Casas de centenas de milhões de dólares, estrelas de cinema têm suas casas aqui. Canais artificiais recortam toda a cidade, lanchas, iates nas garagens aquáticas das casas mudam a paisagem. Na Marina, mais centenas de milhões de dolares; mais luxurious yatchs ao lado das lojas mais fancy and expensive para garantir a diversão das esposas… para as crianças, gigantes parques temáticos pela cidade, incontáveis diversões. São muitas opções, tudo envolve muito dinheiro. E os mendigos, bem, quem é que olha pra eles?! Há quem nem saiba que eles existam por aqui…

A instituição de que faço parte é a “Rosies – friends on the street”(www.rosies.org.au), que tem uma logomarca que oferece diferentes interpretações, mas o significado de que mais gosto é um homem carregando um coração nas costas. Pra mim é o que faz mais sentido. Olhar e cuidar dos mendigos não é somente alimentá-los, cuidar da fome e das necessidades do corpo. Mendigo tem mesmo é fome de ser gente e é por alimentar essa necessidade deles que eles nos agradecem toda vez.

Sempre imaginei um trabalho voluntário como algo sublime, supremo, acima do bem e do mal, coisa para as almas mais evoluídas. Caí na real: trabalho voluntário é chakra básico, é o poder de realização. É a habilidade de ver uma necessidade, juntar as forças disponíveis e fazer acontecer. Ninguém vai resolver os problemas do mundo sozinho e enquanto tivermos esta idéia, imobilizados; tudo fica por fazer, tudo continua como está. A verdade é que toda uma realidade se transforma a partir dos pequenos gestos em direção aos disadvantages, aos desafortunados, não somente o environment que nos cerca como sutis pontos de percepção dentro de cada um. A partir daí, é só confiar que pequenos milagres hão de acontecer.

Eu tenho esse amigo que afirma que trabalhos voluntários são exercícios do ego e manifestações de egoísmo. Aí, bom, se a intenção do seu gesto reside somente em sentir-se melhor, seria mais assertivo fazer, diretamente, algo por você. Mas em geral, eu discordo. O que eu vejo são pessoas com um poder de comprometimento muito forte, algumas tão abastadas que preenchem o tempo livre pela desnecessidade do trabalho, outras struggle para conciliar aquele momento de doação em timetables apertados entre estudos e trabalho. Não cabe a ninguém julgar as razãos que movem e sustentam esses gurpos de pessoas que lutam para provocar pequenas diferenças. O fato de exister um movimento de doação apesar dos pesares – sim, porque essas pessoas não deixam de arregaçar as mangas nos dias de frio e de chuva – confronta a idéia do determinismo a partir da frágil e transformadora presença do livre-arbítrio. Ingredientes suficientes para dar sentido a toda uma existência e gerar mais pequenos milagres.

Acredito, sim, que cada pessoa está hoje exatamente no lugar em que deveria estar, nem mais pra cá nem mais pra lá. Suas ações, as dessa vida e a somatória das suas ações desde o início de tudo, seus pensamentos, suas intenções, suas respostas ao que a vida te ofereceu; um pouquinho de tudo coloca você onde você está hoje. Passar fome?! Tem necessidade mais física do que fome, frio? O medo de não sobreviver porque o corpo, seu veículo precioso, não tem as condições necessárias? É a dor do corpo. É o que temos de mais real nesse mundo enquanto caminhamos no estágio da matéria. E, apesar dos discursos mais lindos sobre a transcendência espiritual, ninguém pode seguir para o próximo passo enquanto não se resolver material, fisicamente; chakra básico mais uma vez. Nesse contexto, já me imaginei no lugar deles e não suportei a dor de carregar a responsabilidade por se encontrar em tamanho estado de animalidade. É por isso que a loucura é a doença mais comum nas ruas. Eu sei que eu não suportaria, eu iria à loucura. Admititr para os seus mais queridos até mesmo para os mais ilustres desconhecidos, quando toda uma estrutura criada para se auto-gerir enquanto alavanca os crescimentos de diferentes ciclos evolutivos te expulsa porque você não foi capaz de jogar o jogo. Difícil dizer o que dói mais, se são as sensações físicas pelo estado miserável ou as milhares de vozes que falam ao mesmo tempo dentro da sua cabeça e os dedos que te apontam como culpado por você estar ali naquele estado. Alguém precisa ajudar, uma mão precisa ser estendida para que o caminho de volta possa a ser uma opção. A escolha é unicamente deles, mas a mão pode ser a sua.

Então, para fechar a roda é preciso de um doador. Quem doa é chakra cardíaco. Veja bem, não estamos falando de troca; chakra sexual. Interagir mais proximamente com pessoas com necessidades tão visíveis como a fome, o frio, a falta de higiene e, muitas vezes, de saúde, é – na ânsia de ajudar, já que você já assumiu o ato com seu comprometimento – sair à procura do que você tem e acabar descobrindo a sua abundância pessoal. Se um movimento externo de intenção sincera provoca um resultado interno tão bonito, não poderia ser a mão de Deus te fazendo ainda melhor, mais preparado, mais divinamente guiado para caminhar neste mundo?!

Para mim, o trabalho voluntário é essa reflexão, é esse exercício de interagir de perto com uma realidade nada agradável. É o exercício do caminho inverso. O nosso piloto automático, o nosso eu egóico, a medida em que construimos nossas estruturas, nossas seguranças e certezas, tende a nos levar cada vez mais para zonas de conforto. Por isso cercamos e muramos a nossa casa, o alarme no carro, os vidros escuros e uma janela bem grande na direçao da vista mais bonita – e segura. É o contrário do que o seu eu está esperando e assim mexer diretamente com seu Eu inferior. É sentir de perto os seus maiores medos e, ao invés de por eles se deixar paralizar, agir na intenção de ajudar o próximo. É trazer para a consciência os resultados da irresponsabilidade pessoal, as faces mais indesejáveis da inveja, ganância, da ira, da preguiça, orgulho e se dispor a ser um agente de transformação. É quando o mal fortalece o bem e o bem tranforma o mal porque não há nada que os (nos) separa, são (somos) partes de um mesmo todo. Se é assim, não há o que temer, só há muito o que fazer! Mãos à obra!


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